O JAZZ AO SEU ALCANCE

JAZZ. Tentar encontrar qualquer definição desse gênero musical pode possibilitar uma viagem única, mágica e absolutamente emocional.

O Jazz pode ser considerado tudo isso, ou simplesmente aquilo. Pouco importa a definição. O que pode ser sentido é muito mais amplo, indescritível e infindável. Cada um, na magnitude da sua identidade pessoal, pode experimentar suas inúmeras possibilidades. Uma sensação única, que pode e deve ser dividida.Uma das publicações brasileiras mais interessantes dos últimos tempos no gênero foi lançada em 2016 pela Editora Multifoco e assinada pelo jornalista e pesquisador Emerson Lopes, com o sugestivo nome de “Jazz Ao Seu Alcance”.

O livro nasceu por acaso, depois de vários anos da existência na internet do seu “Guia do Jazz”, hospedado no portal “sobresites.com”, onde podíamos encontrar vários tópicos sobre artistas, rádios, revistas, casas de shows, festivais e tudo mais que se relacionava com o Jazz.Dividido em 20 capítulos e com incríveis 670 páginas, o livro poderá ser consumido na ordem que melhor interessar ao leitor. Não existe uma ordem cronológica e isso facilita e diferencia muito a leitura.

O mais curioso disso tudo é que Emerson Lopes, no início das suas pesquisas, não era um fã do Jazz. Foi se apaixonando aos poucos e, através dos anos e muitas pesquisas, agora declara seu amor pelo gênero.

Isso comprova que o Jazz é acessível a todos e pode ser consumido sem qualquer moderação. E, o melhor, não faz mal à saúde. Pelo contrário, só faz bem à alma e aos nossos ouvidos.
O grande mérito deste trabalho está no fato de proporcionar acesso irrestrito ao gênero, tão cheio de definições e preconceitos.Talvez por isso o nome do livro seja perfeito, por possibilitar o seu alcance por qualquer um de nós. Basta apenas ter algum interesse pelo assunto.

O nascimento do Jazz se deu da união dos opostos. A cultura africana (instintiva e intuitiva) encontrou-se com a europeia (racional e emocional) de forma mágica e perfeita. Às margens do rio Mississipi, em Nova Orleans, nos Estados Unidos, os negros (que eram proibidos de executar suas músicas) passaram a cantar e tocar a música dos brancos. O Jazz em particular, em razão das suas origens e disseminação, adquiriu características de música universal. Suas influências podem ser sentidas em vários gêneros musicais, assim como ele vem sendo influenciado por músicos e músicas de várias origens.Estudar e incentivar esse fenômeno é preciso. Daí nasce todo o esforço para oferecer a boa música, sem fronteiras, cujas origens são importantes e entrelaçadas, mas cuja preservação para as gerações futuras é muito importante.
Recomendo a leitura deste livro, que vai possibilitar uma viagem muito interessante no fascinante e sempre surpreendente mundo do Jazz.

 

Till Broner – “Rio”

 

O CD “Rio”, lançado no ano de 2009 pelo selo Verve, foi, para mim, uma das grandes surpresas dos últimos anos.

E mais uma grande prova de que o Jazz convive muito bem interligado e harmonizado com a Bossa Nova.

O trompetista e cantor alemão Till Bronner é um músico experiente e conseguiu realizar um antigo sonho pessoal de deixar registrado seu amor e admiração pela sonoridade da Bossa Nova.

A produção do disco é assinada por Larry Klein, também contrabaixista e um verdadeiro craque, que já produziu discos de Joni Mitchell, da brasileira Luciana Souza, Madeleine Peyroux entre outros nomes importantes.

Reuniram também um time de músicos de alto nível: Milton Nascimento, Sergio Mendes, Annie Lennox, Vanessa da Mata, Luciana Souza, Melody Gardot e Kurt Elling, são alguns dos nomes selecionados, além de outros talentosos músicos brasileiros que fizeram parte da “cozinha” de base de acompanhamento.

O timbre suave do trompete e a voz surpreendente de Till Bronner soaram muito bem no repertório escolhido, composto por 13 faixas impecáveis.

Os temas “Mistérios”, “Só Danço Samba”, “Ela é Carioca”, “Café com Pão” e “Bonita” chamaram a minha atenção pela beleza das interpretações e pela sonoridade.

Um CD que reforça a tese de que a música é uma linguagem universal que une países, culturas e gêneros musicais de uma forma simples, espontânea e natural.

 

Jessé Sadoc – “O Som de Casa”

Um dos maiores instrumentistas do nosso país, o trompetista carioca Jessé Sadoc, lançou de forma independente em 2016, seu primeiro CD como líder. Ele passou a infância nos estúdios de gravação e em ensaios, acompanhando seu pai que era trombonista e já aos 11 anos de idade começou a estudar trompete na Escola de Música Villa-Lobos.

Sadoc é também um dos fundadores da incrível e afinada Orquestra Atlântica, integrante do Quinteto Arte Metal e há mais de uma década participa da banda do pianista Marcos Valle e mais recentemente do cantor Djavan. Além de integrar a Orquestra Sinfônica Brasileira e a Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Pelo seu raro talento e simplicidade é um dos músicos brasileiros mais requisitados para shows e gravações, levando com suavidade seu trompete e por vezes o seu melodioso flugelhorn. E os seus arranjos, sempre muito inspirados, o tornam um músico diferenciado e completo. Acompanha nomes de peso da nossa MPB desde o ano de 1997, como Caetano Veloso, Ed Motta, Ivan Lins, Guinga, Celso Fonseca e tantos outros nomes importantes.

Com apenas 12 anos de idade, teve uma aula particular com o gigante Wynton Marsalis, um dos trompetistas mais importantes da História do Jazz.

E curiosamente, anos mais tarde, se encontraram novamente e Sadoc já era um músico profissional e admirado por Marsalis. Coisas que só a música tem o poder de fazer.

O disco tem 10 faixas autorais e apenas uma em parceria ao lado do seu grande amigo Marcos Valle, com quem divide os palcos com muita frequência nos últimos anos. Ao seu lado, apenas seus amigos mais próximos: Alberto Continentino no contrabaixo, Glauton Campello e Kiko Continentino nos pianos, Marcelo Martins nos saxofones, Renato Massa na bateria e a participação muito especial do genial Marcos Valle no piano. Um verdadeiro timaço de músicos, que emprestaram talento e uma musicalidade extrema ao trabalho.
Meus destaques ficam para “Partido Magnético”, “Dani”, “Boa Nova”, as baladas “Contemplativa” e “Blues Menor”, “Jazz Del Este”, e a minha preferida “Nordic Sunset”, feita em parceria com Marcos Valle.

Música instrumental brasileira de altíssimo nível, improvisos inspirados com pitadas do Jazz e da Bossa Nova, numa levada única e estimulante. Trabalho feito por quem conhece do assunto música. Valeu Jessé Sadoc pelo belo presente!

 

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