VINHO & JAZZ: TAMBÉM UMA COMBINAÇÃO PERFEITA

Na semana passada, escrevi sobre a relação mágica entre o vinho e a Bossa Nova e agora vou escrever sobre a relação intensa que também acontece entre o vinho e o Jazz.
Sou um grande apreciador de vinhos, mas tenho que confessar que não  sou um grande conhecedor de vinhos, talvez um aprendiz interessado das suas histórias e tradições, principalmente dos países sul-americanos, Argentina, Uruguai e Chile.
Tenho feito regularmente algumas experiências de vivenciar a intensa sinergia de degustar esta bebida tão especial e saudável (quando apreciada com a devida moderação), obrigatoriamente acompanhada por uma boa música, de preferência um bom Jazz. Uma combinação perfeita que serve para aguçar e despertar ainda mais os nossos sentidos.
Nestes momentos de prazerosa degustação é quase natural a necessidade do complemento da música, que nos deixa mais sensíveis a sentir os ritmos bem marcados e arranjados, os solos dos instrumentos e das vozes, mexendo invariavelmente com as nossas emoções e deixando a nossa alma repleta de alegria.
Imediatamente me lembro dos vinhos produzidos nos Estados Unidos, mais precisamente no estado da Califórnia, que a partir doa década de 90, conquistou grande prestígio no mundo dos vinhos. Os seus rótulos, por serem originários de uma região ensolarada e mais quente, são mais leves e adocicados.
E assim também aconteceu com o West Coast Jazz, considerado uma derivação do Cool Jazz, criado no início da década de 50, que valorizava muito os arranjos e a sonoridade das orquestras, apresentando um som mais calmo e envolvente. Que tal então você desfrutar de um bom vinho californiano ao som dos saxofonistas Gerry Mulligan, Bud Shank e Bob Cooper, do trompetista Chet Baker, da orquestra do pianista Stan Kenton e dos pianistas André Previn e Dave Brubeck.
E nos dias de hoje são muito comuns e rotineiros os eventos que associam o vinho e o Jazz, como confrarias, festivais de música, noites de degustação, assim como também em outras manifestações artísticas, como as literárias, as de cinema e as de gastronomia. Sempre muito interessantes e repletas de boas informações.
E para finalizar que tal experimentar a harmonização de um bom vinho argentino ou chileno com “A Love Supreme” de John Coltrane, que tem gosto de vanguarda, complexo e cerebral, com força passional.

Outra sugestão é um Borgonha tinto harmonizado com a delicadeza quase preguiçosa de “Lover Man” da cantora Billie Holiday. Cominação de rara emoção.
Posso garantir que o Jazz pela sua composição estética e por ser uma música mais elaborada, traz na sua essência a garantia de proporcionar um clima muito agradável para você desfrutar esta agradável experiência.
O Jazz é uma das trilhas musicais preferidas pelo público para estar associado ao vinho, pelo seu encaixe perfeito. Só falta agora você escolher o seu vinho e o seu artista de Jazz preferido Não deixe de vivenciar e degustar este raro momento de prazer.


Guga Stroeter & Orquestra HB Heartbreakers – “Emoções Baratas”

No ano de 1989, assisti, em São Paulo, no antigo Espaço Avenida localizado em Pinheiros, a primeira montagem do espetáculo “Emoções Baratas”, que unia a atmosfera mágica do Jazz com a dança e um repertório selecionado com as mais belas composições do genial de Duke Ellington, executadas pela orquestra HB Heartbreakers, liderada pelo vibrafonista Guga Stroeter, um dos maiores estudiosos aqui no Brasil, da obra “Ellingtoniana”.

E as surpresas já começavam no saguão de entrada do teatro, onde os músicos e bailarinos já interagiam com o público, criando uma atmosfera real de um cabaré. Quando me dei por conta, estava fazendo parte do espetáculo.
Sucesso de público e crítica, o espetáculo ficou em cartaz por mais de 30 meses e foi concebido e dirigido pelo competente José Possi Neto, que se inspirou numa vivência pessoal, quando passeava pela cidade de Boston e descobriu um porão onde se tocava um jazz alucinante.

No ano de 2010, eles retornaram ao palco e fizeram mais uma temporada de sucesso, inclusive com a gravação deste CD primoroso com 17 faixas, lançado no mesmo ano pelo selo independente Sambatá.

O repertório do disco é bem variado e contempla as várias fases do compositor, como aquelas executadas nos cabarés dos anos 20, trechos de obras religiosas dos anos 40 e músicas no formato camerístico de concerto dos anos 50.
Destaque para “I’m Just A Luck So And So” e “Come Sunday” na voz de Bibba Chuqui, “I`m Beginning To See The Light”, “Satin Doll” e “Don`t Get Around Much Anymore” na voz de Karin Hills e as instrumentais “Wild Man Moore”, “The Mooche”, “Stomp Look & Listen” e, a minha preferida, “Sunset And The Mocking Bird”.

Um lindo espetáculo, uma orquestra super afinada, um belo repertório e como consequência, um CD maravilhoso. Simplesmente, incrível e recomendado.


“Edu Lobo & Metropole Orkest”

Aqui está mais uma prova de que o Jazz visitou a MPB, de uma forma harmoniosa e muito identificada..

Edu Lobo, um dos principais intérpretes e compositores do nosso país, teve a ousadia que revisitar sua obra musical ao lado da renomada Metropole Orkest, da Holanda, fundada em 1945. E que tem no currículo gravações ao lado de artistas como Al Jarreau, Herbie Hancock, Andrea Bocelli, Paquito D`Rivera e os brasileiros Egberto Gismonti, Ivan Lins e Astrud Gilberto.

O CD foi lançado em 2013 pelo selo Biscoito Fino e apresenta um show ao vivo gravado dois anos antes, em 28 de maio de 2011, na cidade de Amsterdã, no Teatro Beurs Van Berlage, e que contou com as orquestrações e piano do competente e talentoso Gilson Peranzzetta, as flautas e saxofones de Mauro Senise (seus velhos parceiros) e a regência do maestro Jules Bucley, que liderou mais de 50 músicos.
O repertório do show foi escolhido por Edu Lobo, contando com a ajuda de seus grandes parceiros e grandes músicos, Gilson Peranzzetta e Mauro Senise, que conhecem com intimidade a obra musical de Edu Lobo.

Destaque para os clássicos “Vento Bravo”, “Ave Rara”, “Choro Bandido”, “Canção do Amanhecer”, “Canto Triste”, “A História de Lily Braun” e os temas instrumentais “Casa Forte” e “Zanzibar”.

O que mais me impressionou foi ouvir a obra de Edu Lobo, genuinamente brasileira, com sambas, bossas, baladas e frevos, interpretada com a sonoridade vigorosa de uma “Big Band”, típica do Jazz.

O resultado ficou surpreendente e reforça sua grande sensibilidade interpretativa de Edu lobo.

É mais um belo e raro registro da sua vitoriosa carreira.

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